Kindira era jovem e vaidosa.
Mesmo com a pele em bom estado, gostava de passar os seus cremes e loções para se embelezar.
Além de se manter linda, também gostava de ler.
Ao contrário da maioria das moças bonitas, apreciava a ficção científica pois achava que este era um estilo que a permitia ter um vislumbre do futuro além de entender a maioria das quinquilharias de alta tecnologia que a cercava.
E ainda tinha sua coleção de bonecos miniaturizados representando os grandes heróis do cinema e dos quadrinhos.
Livros, perfumaria, espelhos, pentes e miniaturas eram todos organizadamente (como convém à maioria das mulheres) guardados num armário de sua casa que toda hora ela estava dando uma espiada.
Alí ela esquecia os problemas do mundo.
Certa ocasião porém, enquanto se distraia organizando seus livros pela décima quarta vez só naquele dia, foi surpreendida por um barulho estranho que saiu dalí de dentro.
O som foi crescendo e, com ele, chegou um estranho mau cheiro que, ficou cada vez mais forte.
De-repente, o chão se rompeu jogando para fora todos os seus objetos e quinquilharias.
Alí abriu-se um buraco de onde surgiu um braço com uma enxada.
O cachorrinho de Kindira se aproximou do buraco e começou a latir insistentemente.
Sem demora, a ferramenta atingiu o cão com violência matando-o imediatamente.
Do buraco saiu uma figura humanóide que parecia inteiramente coberta de um barro marrom e mal cheiroso.
-Olha! Tem uma gostosinha aqui! E é bem novinha!
A criatura acertou um soco na cara de Kindira deixando-a nocauteada e foi arrancando as roupas da menina enquanto pelo buraco no armário já saia outra não muito diferente da primeira.
***
Sôtário estava assistindo um DVD de auto ajuda espiritual que ensinava a manter a calma, a paz, a agir com sabedoria diante das adversidades e a se entregar como ser humano para o bem estar do universo.
De-repente, do quarto de sua filha, ouviu uma série de sons estranhos seguidos por um barulho de pancada e dos gritos dela.
-Kindira, o que está havendo?
Levantou-se e encaminhou-se lentamente para lá já que, estava bastante relaxado e tranqüilo.
Abriu a porta e a primeira coisa que o surpreendeu foi o mal cheiro que vinha dalí.
Depois, viu quatro criaturas de formas humanóides cobertas por uma espécie de barro marrom muito mal cheiroso.
Entre elas, estava sua filha sendo violentamente currada pelos quatro que já haviam até matado o cachorro dela.
Seu espanto paralisou-o por alguns segundos.
Tempo suficiente para que uma daquelas criaturas acertasse na sua cabeça um violento golpe com uma espécie de enxada.
Sôtário caiu no chão semi inconsciente.
Não conseguia se mexer.
Mas podia ver sua filha sofrendo o diabo.
Inutilizado, ainda pode enxergar sua mulher chegar àquela cena e, também ela, ser dominada e sodomizada por aqueles tipos maléficos.
Depois de presenciar tudo pelo que elas passaram finalmente teve sossego.
Os agressores acertaram mais algumas pauladas e chutes nele que lhe tiraram a vida.
Esta pergunta foi dirigida a um sujeito vestindo roupas pretas e uma camisa de colarinho típico ao usado por esta classe de religiosos fora das missas.
-Sim eu sou! Que tipo de ajuda precisa?
-Não muita! – Disse o sujeito. – Veja só: meu carro quebrou e estou levando roupas e utensílios de higiene para uma pequena instituição de caridade onde faço doações.
“Eu preciso achar um mecânico para dar um jeito no veículo.”
“Será que o senhor pode ficar tomando conta dele enquanto vou procurar por um mecânico aqui nas imediações?”
-Mas claro! -Respondeu o padre. – Mas, se quiser…
-Não demoro mais que dez minutos. O senhor me aguarde aqui que eu já volto…
O sujeito saiu correndo e, assim que virou a esquina, seu telefone celular, que havia sido esquecido sobre o painel do veículo avariado, tocou.
O padre a princípio ficou olhando o desenrolar dos acontecimentos.
Não quis atender o telefone que não era dele.
Apenas ficou olhando a carga no interior do veículo.
O telefone deu uma parada de tocar, mas, logo voltou a insistir.
Desta vez, o padre resolveu atender.
Iria apenas dizer que o dono do telefone não estava disponível no momento. Atendeu, colocou-o na orelha e, quando ia dizer alguma coisa ouviu:
-Pô! Vai demorar muito? Estamos aqui esperando a um tempão…
Pelo som, o padre ainda ouviu gritos de agonia além de risadas.
-A sorte é que achamos duas frangas aqui que nós estamos usando para se divertir e sair da miséria.
O padre estranhou e desconfiou muito da situação. Percebeu que alguma coisa ali estava bastante errada.
Seu faro para este tipo de coisa já se mostrara infalível antes.
Rapidamente, acionou o navegador do telefone celular e, através dele rastreou a origem da chamada.
Logo, um mapinha apareceu na tela indicando como poderia fazer para chegar lá, e a estimativa de tempo prevista para tanto.
Uma breve exame no desenho confirmou uma suspeita que se formava na sua cabeça.
Com raciocínio rápido, ele teve uma idéia e arriscou:
-Tive aqui um contratempo com o carro, mas, a entrega vai ser feita logo. Um sujeito alto vestido de padre vai fazê-la. A estimativa é de no máximo meia hora… -Meia hora??
-É o tempo que deve levar para consertar o carro…
-Muito bem! Agora corre aí!
O telefone desligou abruptamente e o padre entrou dentro do carro e abriu o capô dele.
Tentou ligar, mas não conseguiu.
-Ei você! Poderia me ajudar?Você é padre não é?
***
Pelo barulho, teve um palpite de qual poderia ser o defeito. Talvez desse até para deixá-lo funcionando.
Abriu o capô, mexeu no carburador e tentou novamente. Desta vez, o motor funcionou.
Puxou o afogador e deixou o veículo funcionando.
Alguns instantes depois o proprietário reaparece.
-Puxa vida, padre! O senhor conseguiu colocá-lo para funcionar! Que sorte! Eu nem achei um mecânico!
O sujeito se aproximou.
-Como fez o trabalho sem ferramentas?
O padre mostrou um martelo muito pesado que segurava usando apenas uma das mãos.
Desses que os trabalhadores usam para quebrar pedras. -Não entendi!
-Entre no carro que eu mostro.
-Dentro do carro? Mas o problema não estava no motor? -Confie em mim que eu já te explico.
***
Alguns minutos depois, o veículo que estivera aparentemente avariado entrava num terreno cercado por altos muros cujo único portão de acesso estava aberto.
O terreno era grande e no seu centro, justamente onde havia um pequeno morro fora construída uma casa.
O veículo estacionou em frente a ela e, do seu interior, saiu o padre.
A porta que dava acesso para o interior da casa se abriu e dali saiu uma criatura humanóide que parecia toda coberta de um barro fedido.
O padre olhou para a casa, depois para o chão e, por fim para os prédios que haviam além dos muros do terreno.
Especialmente para um deles.
Aquela figura coberta de lama confirmava suas suspeitas…
-Você que trouxe o material?
-Sim! – Disse o padre que se aproximou do bagageiro do veículo e o abriu. – Está tudo aqui.
O ser de lama aproximou-se do padre que mantinha-se absolutamente sereno e espantou-se ao olhar para onde este havia indicado. -Mas o que é isso?
Ele se referia ao motorista anterior que havia pedido ajuda ao padre.
Ele estava morto alí dentro cheio de hematomas causados por algum objeto contundente.
O padre logo tratou de explicar:
-Ele revelou a verdade e eu expiei seus pecados.
-Como?- Indagou o barroso um tanto confuso.
-Assim! – Respondeu o padre que, em seguida tirou de dentro do porta-malas um pesado martelo com que acertou violentamente a cabeça do estranho tipo.
-O que está acontecendo aí? – Perguntou alguém aos berros de dentro da casa.
O padre não perdeu tempo e pegou outro martelo tão pesado quanto o primeiro e entrou como um raio na casa.
Assim que identificou seus alvos, ele disse:
-A ira divina de Deus chegou para puní-los. Arrependam-se dos seus pecados. Dizendo isso, executou uma dança violenta e mortal com os martelos e, com três golpes certeiros estraçalhou as cabeças dos três tipos malvados que ainda se encontravam estuprando os cadáveres das mulheres que alí estavam.
-Que Deus perdoe estes malditos desgraçados pois, eu, não sou capaz de tamanha grandeza. – Disse o padre.
Olhou os cadáveres dos moradores que sofreram com a estranha invasão, se ajoelhou, e pediu por suas almas.
Terminada suas orações, foi até o armário onde estava o buraco por onde haviam passado os malvados assassinos e chegou à conclusão de que sua suposição era correta.
Ouviu o som de sirenes aumentando de intensidade. Tinha que sair dalí.
Antes porém, fêz um desenho na parede.
***
-Aqui estão as fotos da cena do crime. – Disse Dredd. – Eu e Max estivemos no local antes da perícia e fizemos alguns exames preliminares.
Um laptop foi colocado diante do chefe Norris e a apresentação começou.
Primeiro apareceram fotos de um homem alto que fugia em direção a uma área de floresta nos fundos do terreno onde houve a ocorrência.
Olhando aquelas primeiras fotos, o chefe pareceu se concentrar ainda mais no conteúdo do que estava sendo exibido.
Em seguida foram mostrados os enlameados.
Todos foram mortos com pancadas fortes produzidas por objeto contundente.
-Os quatro são condenados que estavam presos na Penitenciária Feliz Estadia. -Esclareceu Dredd.
-Que fica a menos de um quarteirão dalí. – Continuou Max. – Os condenados cavaram um túnel que deu bem num dos armários da casa.
-E pelo jeito já saíram apavorando quem encontraram pela frente.
-Os bandidos mataram os moradores da casa. Mas: quem os teria matado? -Indagou o Chefe Norris.
Ao ver uma foto da exibição, ele rapidamente deu um click no botão que pausou a apresentação.
Olhou atentamente a imagem.
Era de um desenho feito numa das paredes do local do crime.
-Esse desenho. – Disse o Chefe Norris. – Ele esclarece o crime.
Max e Dredd se entreolharam sem entender nada.
O chefe Norris continuou sua explanação:
-O crime contra os fugitivos da Feliz Estadia foi cometido pelo Padre MarTelo. -Padre MarTelo? – Indagou Max.
-É um caso antigo! – Explicou o Chefe. – Um padre que sai aplicando a justiça divina com as próprias mãos. Um tipo metido a vingador. É do gênero que não deixa pistas. Apenas um desenho como assinatura indicando a autoria.
Dito isso ele apontou para o desenho na tela do monitor.
-Essa é a assinatura dele!
Houve um breve silêncio.
O Chefe Norris continuou falando enquanto coçava a barba:
-Não será fácil destrinchar esse caso. As autoridades eclesiásticas vão querer brecar nosso trabalho. E, o pior, é que temos que começar a investigação conversando com o único sujeito que pode passar alguma informação precisa do Padre MarTelo.
-Então não percamos tempo! – Disse Max. – Quem é esse cara?
-Exatamente o mesmo que pode mexer os pauzinhos para que o caso vá parar no fundo de algum arquivo morto: o Cardeal Dom José.
***
Mesmo diante daquela situação, Max, Dredd e o Chefe Norris foram visitar o Cardeal Dom José na Arquidiocese onde ele atuava na maior parte do tempo.
O conjunto de edificações que a compunha era impressionante.
Mais ainda, o muro que cercava todo seu território. Parecia inspirado nas grossas muralhas da China pois alí podiam até circular pequenos veículos de transporte e passeio.
Porém, o que mais evidenciava a autoridade e o poder concedido pelo Vaticano ao Cardeal Dom José era o palácio de onde ele exercia suas funções.
Em poucas palavras: uma fortaleza enorme, no interior de outra fortaleza em que se consistia a Arquidiocese.
O esquema de segurança ali era fantástico.
Digno dos melhores filmes de ficção científica.
Max, Dredd e o chefe Norris tiveram de andar bastante até chegar ao gabinete onde o Cardeal concedia suas audiências.
-Sentem-se, senhores! – Disse o Cardeal apontando para um conjunto de poltronas situado no centro da sala, bem de fronte à sua mesa.
O Cardeal saiu de trás dela e dirigiu-se para onde estavam seus visitantes.
Ao contrário dos outros Cardeais nomeados pelo Papa, não usava cores vermelhas nas suas vestes.
Dom José era o Cardeal Negro, o Encarregado dos Assuntos Sensíveis da Santa Sé.
Um departamento que, para o público em geral não existia e que era de conhecimento apenas das Autoridades de Segurança Estatais.
Na hierarquia do Vaticano, sua autoridade só não era superada pela do próprio Sumo Pontífice.
Mesmo os Cardeais Arcebispos estavam em posição de inferioridade hierárquica à do Cardeal Negro.
Muitos Papados já se sucederam desde que Dom José assumiu o Manto do Cardeal Negro.
Tamanha experiência se evidenciava na sua postura que já era curvada e no seu lento andar.
As expressões do seu rosto eram marcadas por rugas profundas.
O Cardeal sentou-se na sua poltrona, só então os policiais fizeram o mesmo. -Eminência. – Começou falando o Chefe Norris. – Infelizmente, assuntos não muito agradáveis nos trazem aqui. -Prossiga, meu filho!
A voz do Cardeal estava mais firme.
-Eminência! Vamos reabrir o caso do Padre MarTelo!
Agora, a voz do Cardeal Negro demonstrava até certa irritação. Do jeito que falava, o peso da sua idade parecia sumir por completo.
-Chefe Norris! Ouça atentamente! Este caso já está encerrado a mais de vinte anos! Sua obstinação em remoê-lo já lhe trouxe problemas. Ao que me consta, até a transferência para um departamento de polícia onde haveria pouco trabalho com que se preocupar…
-Infelizmente isso é verdade, Eminência. Mas veja só: o progresso também chegou à Jurisdição do meu Departamento e o crime que nos trouxe aqui aconteceu nela.
Dizendo isso, o Chefe Norris abriu um laptop, colocou na mesa diante de onde o Cardeal estava sentado e mostrou a apresentação que tinha as fotos do crime.
Alí, já começou direto com a imagem que tinha o desenho que acreditava incriminar o Padre MarTelo.
Depois, seguiu demonstrando as outras fotos.
A irritação do Cardeal Negro aumentou fazendo com que, num movimento brusco e rápido se pusesse de pé.
-Sua fixação neste caso parece não ter limites, Chefe Norris. Este desenho a que o senhor se refere como se fosse uma prova substancial pode muito bem ser obra de um imitador barato.
Os três policiais se puseram de pé imediatamente.
-Mas Eminência, tudo leva a crer que o Padre MarTelo esteja de volta…
-Chefe Norris, se existisse o Padre MarTelo, conforme apregoavam as notícias fantasiosas que o senhor mandou publicar a vinte anos atrás pelos jornais de grande circulação, ele teria um treinamento e dedicação à causa religiosa superior até à que era requerida dos antigos Cavaleiros Templários.
“Nos dias de hoje, pela ficção que vocês criaram, os votos dele o tornariam um Super-Homem capaz de feitos incríveis; um verdadeiro Anjo Vingador! A Polícia, as Forças Armadas e as Autoridades Estatais não teriam chance contra uma força dessa. Portanto, desista desse caso! Concentre-se em outras coisas. Nossa audiência está encerrada.”
-Mas Eminência… – Ainda choramingou o chefe Norris.
-Esqueça este caso, chefe. – Ordenou mais uma vez o Cardeal que deu as costas para os três e voltou para trás de sua mesa.
Os policiais saíram do Gabinete.
Uma última olhada em direção ao Cardeal mostrou que ele estava falando ao celular com alguém….
***
Antes que os três policiais chegassem aos muros que delimitavam o espaço territorial da arquidiocese, o telefone do Chefe Norris tocou quatro vezes.
A primeira chamada veio do Secretário da Justiça, a segunda, do Chefe da Procuradoria Geral, a terceira, do seu chefe direto, e, a última, do Corregedor Geral da Polícia.
Basicamente, a mensagem contida em todas elas foi a mesma:
-Chefe Norris! Esqueça este caso! Concentre-se em outras coisas!
Inconformado, ele entrou juntamente com Max e Dredd na viatura interceptadora dizendo:
-E não é a primeira vez que isso acontece neste caso do Padre MarTelo…
-Não podemos nos esquecer que o ano passado tivemos outro caso de obstrução da Igreja interferindo nas nossas investigações…
-É… – Concordou Dredd. – Foi no caso de transplante de cérebros…
-E depois dizem que vivemos num Estado Laico onde a Religião não interfere nas atividades governamentais! – Choramingou o Chefe Norris.
***
No gabinete do Cardeal Negro, uma figura saiu das sombras, aproximou-se da mesa de Dom José e caiu de joelhos aos seus pés: era o Padre MarTelo.
-Me perdoe Eminência. Eu fui fraco. Não pude controlar o meu ódio pelo mal.
O Cardeal Negro se levantou nervoso da poltrona onde estivera sentado. Nem parecia mais ter tanta idade.
-Seu ódio pelo mal também é uma expressão do próprio mal. Você tem de aprender a controlar os seus instintos! Não é só pela disciplina física que se chega à perfeição de Deus. Um Padre deve manter uma postura firme diante dos desejos, e também da ruindade que assola o coração humano.
As lágrimas escorriam abundantemente pelo rosto do Padre.
-Me perdoe Eminência! Eu pequei.
O Cardeal Negro voltou a se sentar e deu um suspiro. Sua explosão de ira havia acabado.
-Filho! Sei que você passou por uma difícil provação ao presenciar tanta barbaridade.
“Os crimes cometidos por aqueles bandidos foram ultrajantes. Eles eram tipos perversos. Olhando a lama que cobria os seus corpos, tenho dúvidas se a origem dela se encontrava apenas na passagem pelo túnel que lhes daria fuga.”
“Para mim, aquela era uma excrecência das almas deles que já estavam verdadeiramente condenadas ao Inferno.”
O Cardeal fez uma breve pausa e continuou:
-Mas você também falhou ao liberar sua ira. Colocou em risco muitos de nossos segredos. Agora deverá se penitenciar.
-Sim Eminência.
***
Momentos depois, o Padre MarTelo estava num quarto sem camisa se penitenciando.
Dava fortes chicotadas nas próprias costas com correntes e bolas de ferro cheia de pregos nas extremidades enquanto silenciosamente fazia suas orações.
Seu corpo forte, grande e musculoso era coberto de marcas, inclusive uma de crucifixo queimada a ferro e fogo bem no meio do peito.
As dores a que se submetia não o incomodavam, apenas a dúvida de que se no futuro seria capaz de manter a disciplina exigida pelo Cardeal Negro diante do mal.
***
Os três policiais chegaram mal humorados à Chefatura de polícia.
Max e Dredd sentaram-se nas suas mesas de cara amarrada e começaram uma partida de xadrez.
Chefe Norris foi para sua sala e chamou pela secretária.
-Gina.
Entrou uma loira linda com uniforme da polícia batendo continência.
-Sim sr., Chefe Norris.
De cara amarrada e aparentando extremo mau humor, o Chefe pegou duas pastas que estavam sobre a sua mesa e entregou-as à policial.
Juntou a este material o CD que estava no seu laptop e disse:
-Tire esse negócio daqui. Não preciso te dizer onde você enfia essa merda…
-Mas Chefe! Esse caso chegou para o senhor não fazem vinte quatro horas.
-Eu sei, colega! Infelizmente, a situação é essa que eu te disse. – Infelizmente!!! -Sim senhor!
Gina saiu da sala dirigindo-se para o subsolo da chefatura.
Depois de caminhar por diversos corredores escuros e abandonados, chegou à uma sala onde entrou.
Alí tudo também estava apagado, mas, quando as luzes foram acesas, revelou-se um amplo ambiente com dezenas de armários de aço enfileirados.
Cada um tinha a numeração de um ano na lateral.
Gina chegou até aquele que indicava o ano corrente, abriu suas portas, arrumou um espaço e colocou no fundo dele todo o material referente àquele caso, conforme as ordens que recebera.
Fechou o armário que no seu interior não tinha buraco algum.
Apagou as luzes, saiu da sala e trancou a porta que dava acesso a ela onde havia uma placa de plástico preta com os seguintes dizeres “Arquivo Morto”.
Abaixo dela, na mesma porta, um papelão fora colado anexo com fita adesiva onde estava escrito à mão:
“Aqui a Justiça nunca chegará”.
Provavelmente, aquele fosse o desabafo de algum policial insatisfeito.