Perante a sociedade, a justiça e a todos, a sra. Graça sempre mostrou-se uma dona de casa respeitadora das leis e costumes. 

Sua vida era tranquila, normal e, até certo ponto monótona, afinal, nada de novo ou extraordinário lhe acontecia para mudar a rotina. 

A reviravolta ocorreu a partir do momento que a sra. Graça , por uma das peripécias do destino, viu-se viúva. 

Maridos prevenidos, em situações como esta, normalmente deixam um generoso dote para a família, ou mesmo, se amparam em algum tipo de seguro visando remediar as conseqüências destes problemas. 

Neste caso, o esposo da sra. Graça demonstrou não ser lá muito precavido, afinal, deixou como herança uma grande árvore com várias pencas de dívidas a serem pagas. 

Penduras de todos os gêneros possíveis e imagináveis, desde a tradicional conta do boteco por beber pinga fiada até as parcelas de bens adquiridos a prazo em milhares de prestações. 

E como seria de imaginar, diante de tantas pendências, não deixou o finado uma única pataca que de algum modo pudesse aliviar a Sra. Graça daquele ônus. 

Findo o casamento, passou a pobre mulher a oficialmente fazer parte do interminável exercito de endividados que assola a superfície do nosso grande planeta. 

Sendo ela humilde dona de casa não habituada a administrar a contabilidade familiar (coisa que mal e porcamente era feita pelo marido) deparou- se ela com um montante de problemas pelos quais sequer se preparara para imaginar uma solução. 

E, à medida que o tempo passava, avolumou-se a montanha de dores de cabeça. 

Consequentemente, a residência de dona Graça passou então a ser freqüentada por credores e cobradores que insistiam em resgatar as promessas vazias feitas pelo finado esposo. 

Diante de tantos dissabores e questões mal-resolvidas procurou a nossa ex-ilustre protagonista, amparo junto aos amigos e companheiros tentando achar uma solução que resolvesse suas pendências. 

Claro que o modo mais adequado para dar fim a todas as dívidas e penduras seria ter uma conta bancária forrada de dinheiro e, em busca de um modo para alcançar este fim, várias idéias passaram pela cabeça da dona Graça e daqueles que estavam empenhados em ajudá-la. 

Assalto a banco, seqüestro de um figurão ricáço e até mesmo roubo de bens valiosos foram algumas das soluções sugeridas, mas, estas foram prontamente repudiadas pela boa índole da nossa personagem principal. 

Uma das idéias entretanto, apesar de explícita e claramente qualificada no código penal não foi descartada. 

A suposta solução surgiu numa dessas modernas festas regadas à barulheira, álcool e substâncias químicas que melhoram o astral do espírito embelezando pessoas em ambientes que jovens descolados costumam freqüentar e denominar como “REIVES”. 

Atolada e sufocada pelas dores de cabeça que insistiam em persegui-la, Dona Graça compareceu a um dos eventos confraternizatórios anteriormente descritos tentando assim desestressar-se um pouco. 

Nesta ocasião, reencontrou um velho ex-colega de colégio que, após tomar conhecimento do drama da nossa protagonista deu-lhe uma sugestão: 

-Você ainda tem aquele terreno onde bate bastante sol e não tem nenhum tipo de plantação? 

-Sim, mas, por pouco tempo pois, logo os cobradores irão tomá-lo de mim. Veio então a idéia:
-E que tal plantar maconha nele?
Imediatamente, dona Graça quase deixou o queixo cair. Era mais uma 
daquelas ideias criminosas que tanto refutava.
Normalmente, descartaria soluções assim de imediato, mas, como o clima 
da festa era de relaxamento e descontração, acabou achando a idéia meio romântica e aventureira… 

-E dá para pagar minhas dívidas com isso daí?
-Paga tudo e sobra…
Daí por diante, entrou em ação a lábia do velho ex-colega à procura de 
oportunidades.
Não é preciso dizer que, devido à situação desesperadora em que se 
encontrava, a boa velhinha encantou-se com o ambicioso projeto.
Tudo parecia tão lindo! Os números! Bastava plantar! Não daria trabalho! Com o lucro das vendas, logo pagaria as dívidas e, ainda sobraria algum… 

E bem gordo!
Mesmo nunca tendo ou pretendido fumar na vida resolveu entrar de cabeça 
com o ex-colega no negócio.
No dia seguinte, já estava preparando a plantação das primeiras 
sementinhas. 

*** 

Estudando e aprimorando os próprios conhecimentos referentes ao plantio e cultivo de maconha, dona Graça obteve uma excelente safra com plantas produtivas e de boa qualidade. 

Como previra o associado ex-colega da dona Graça, logo vieram os primeiros interessados em comprar a droga. 

Várias ofertas foram feitas pelo total da produção colhida e, naturalmente o negócio foi fechado com aquele que aparentemente pretendia pagar mais pela maconha. 

O leitor com poder de observação mais apurado logo notou que no parágrafo anterior apareceu a palavra “aparentemente”. 

Sim! “Aparentemente”. Porquê, nem tudo ocorreu conforme as previsões maravilhosas do ex-colega associado da dona Graça; o distinto comprador era um policial disfarçado! 

*** 

A plantação foi totalmente aprendida pelos tiras. 

Dona Graça e seu ex-colega foram presos e condenados por tráfico e porte de drogas. 

Se a vida deles era um pesadelo devido à falta de dinheiro, na cadeia virou um inferno! 

A pobre velhinha que, no final das contas sequer curtia o barato de fumar maconha acabou pagando caro a desobediência às leis vigentes. 

PS-Parte da maconha apreendida acabou sendo vendida dentro dos presídios pelos policiais e ainda, o que sobrou, acabou sendo fumada por eles próprios. 

*** 

O leitor mais atento logo irá perceber que este conto que escrevi foi baseado no filme “O BARATO DE GRACE” onde, uma velhinha que passa por problemas idênticos aos da dona Graça acaba também resolvendo plantar maconha para pagar suas dívidas. 

Como ocorrem na maioria dos filmes, o desfecho da história da sra. Grace foi feliz onde esta até acabava se casando novamente além de ficar milionária. 

A produção mencionada nos parágrafos anteriores atingiu plenamente o objetivo de entreter o espectador com uma história diferente e bem humorada. 

Sem dúvida, trata-se de uma boa diversão onde de maneira indireta se discute até as mal explicadas razões que levam alguns governos a proibir o uso da maconha. 

Não se deve esquecer porém que, ainda que, a parcela melhor informada da sociedade considere injusta a proibição desta erva, o porte e a comercialização da mesma ainda continuam proibidas. Fato que, continua a causar sérios problemas aos desavisados e inexperientes. 

O autor destas linhas, longe de querer plagiar a produção cinematográfica anteriormente citada, adverte em seu modesto trabalho que dívidas e problemas afligem milhares de pessoas pelo mundo e, nem todas elas se rendem à contravenção penal buscando solucionar seus males. 

Finalmente, quero lembrar também que o FUMO causa danos à saúde seja lá ele de que espécie for, e isso inclui também a maconha a despeito de suas conhecidas e comprovadas propriedades terapêuticas e medicinais. 

Este texto termina aqui não pretendendo discutir se as leis estão certas ou erradas em proibir a comercialização e porte da maconha. Apenas tenta advertir que O BARATO PODE SAIR CARO e o final na realidade não ser tão feliz. 

*** 

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